“Mitra pertence às mitologias persa, indiana e romana. Na Índia e Pérsia representava a luz (deus solar). Representava também o bem e a libertação da matéria. Chamavam-na de "Sol Vencedor".
Existem referências a Mitra e a
Varuna de 1400 a.C., como deuses de
Mitanni, no norte da Mesopotâmia.
Entre os persas, apareceu como filho de
Aúra-Masda, deus do bem, segundo as imagens dos templos e os escassos testemunhos escritos, o deus Mitra nasceu perto de uma fonte sagrada, debaixo de uma árvore sagrada, a partir de uma rocha (a petra generatrix; Mitra é por isso denominado de petra natus).
Segundo Heródoto, Mitra era a deusa Afrodite Urânia, trazida pelos assírios com o nome Mylitta e pelos árabes com o nome Alitta. Mitra, assim como os demais deuses persas, não tinha imagens, templos ou altares, porque, diferentemente dos gregos, os persas acreditavam que os deuses tinham uma natureza diferente da dos homens.
O culto de Mitra chegou à Europa onde se manteve até o século III. Em Roma, foi culto de alguns imperadores, denominado Protetor do Império.
O símbolo de Mitra era o touro, usado nos sacrifícios à divindade. A morte do touro, que representaria a Lua, era característica desse mistério que se espalhou pelo mundo helénico e romano por meio do exército. A partir do século II o culto a Mitra era dos mais importantes no Império romano e numerosos santuários (Mithraea, singular Mithraeum) foram construídos. A maior parte eram câmaras subterrâneas, com bancos em cada lado, raras vezes eram grutas artificiais. Imagens do culto eram pintadas nas paredes, e numa delas aparecia quase sempre Mithras que matava o touro sacrificial.
Algumas peculiaridades do mitraísmo foram agregadas a outras religiões, como o cristianismo. Por exemplo, desde a
antiguidade, o nascimento de Mitra era celebrado em 25 de Dezembro.
O mitraísmo entrou em decadência a partir da formação da Igreja Católica como instituição, sob Constantino.
A principal razão para a decadência do mitraísmo frente ao cristianismo, foi o mitraísmo não ser tão inclusivo quanto a religião cristã. O culto a Mitra era permitido apenas aos homens, e ainda assim apenas aos homens iniciados em um ritual que acontecia somente em algumas épocas do ano.
O ritual de iniciação na religião mitraica consistia em levar o neófito até ao altar de Mitra, amarrado e vendado, onde o sacerdote oferecia a ele a Coroa do Mundo, colocando-a sobre sua cabeça. O neófito deveria recusar a coroa e responder: "Mitra é a minha única coroa".
Ligações com o cristianismo
O culto a Mitra passou por diversas transformações difundindo-se gradualmente até alcançar um lugar proeminente na Pérsia e representar o principal oponente do cristianismo no mundo romano, nas primeiras etapas de sua expansão.
Sua primeira menção é de aproximadamente 1400 a.C. onde é descrito como o deus do equilíbrio e da ordem do cosmo. Por volta do século V a.C. passou a integrar o panteão do
Zoroastrismo Persa, a princípio como senhor dos elementos e depois sob a forma definitiva do deus solar.
Após a vitória de Alexandre, o Grande, sobre os persas, o culto a Mitra se propagou por todo Mundo Helenístico. Nos séculos III e IV da era cristã as religiões romanas, identificando-se com o carácter viril e luminoso do deus, transformaram o culto a mitra no mitraísmo.
A religião mitraica tinha raízes no dualismo zoroástrico (oposição entre bem e mal, espírito e matéria) e nos cultos helenísticos, mitra passou a ser um deus do bem, criador da luz, e em luta constante contra a divindade obscura do mal. Seu culto estava associado a uma existência futura e espiritual, completamente libertada da matéria.
O culto era celebrado em grutas sagradas onde o principal acontecimento era o sacrifício de um touro, cujo sangue brotava a vida, propiciando a imortalidade.
Com a adopção do cristianismo como religião oficial do império romano o mitrianismo entrou em declínio, mas o dualismo do perpétuo conflito entre o bem e o mal, luz e as trevas ainda sobreviveu sob a forma da doutrina maniqueísta.
Natal e Mitra
A celebração do Natal Cristão em 25 de Dezembro surgiu por paralelo com as solenidades do Deus Mitra, cujo nascimento era comemorado no Solstício (de inverno no hemisfério norte e de verão no hemisfério sul). No calendário romano este solstício acontecia erroneamente no dia 25, em vez de 21 ou 22.
Acontece que a Igreja Católica em contraposição ao culto prestado a Mitra, adoptou o mesmo dia para qual seria realizado a comemoração ao nascimento de Jesus Cristo. Era costume da Igreja Católica pegar elementos pagãos para santificá-los, sem que, com isso, se tornasse defeituosa a fé cristã, ou seja, não alterava a essência de suas crenças. Isso tudo para trazer conversões. Diz Cardeal John Henry Newman em referência a outras adopções: “O emprego de templos, e estes dedicados a certos santos, e enfeitados em ocasiões com ramos de árvores; incenso, lâmpadas e velas; ofertas votivas ao restabelecer-se de doenças; água benta; asilos; dias santos e estações, uso de calendários, procissões, bênçãos dos campos, vestimentas sacerdotais, a tonsura, a aliança nos casamentos, o virar-se para o Oriente, imagens numa data ulterior, talvez o cantochão e o Kyrie Eleison [o canto “Senhor, Tende Piedade”], são todos de origem pagã e santificados pela sua adopção na Igreja.” (Ensaio sobre o Desenvolvimento da Doutrina Cristã)
Os romanos comemoravam na madrugada de 24 de Dezembro o "Nascimento do Invicto" como alusão do alvorecer de um novo sol, com o nascimento do Menino Mitra.
É muito possível que o cristianismo tenha plagiado também o Mitraísmo aderindo às comemorações no dia 25 de Dezembro.
Esta foi a razão que levou algumas religiões, como por exemplo as Testemunhas de Jeová, a não participarem de festividades natalícias.”
Ainda da WIKIPEDIA um outro significado, talvez o que tenha mais a ver com o nome dado à Quinta, por influência dos desenhos do brasão de pedra à esquina sul do edifício:
“A mitra é um tipo de cobertura de cabeça fendida, consistindo de duas peças rígidas, de formato aproximadamente pentagonal, terminadas em ponta, por isso, às vezes chamadas corno ou cúspides, costuradas pelos lados e unidas por cima por um tecido, podendo ser dobradas conjuntamente. As duas cúspides superiores são livres e na parte inferior forma-se um espaço que permite vesti-la na cabeça.
Há duas faixas franjadas na parte posterior, chamadas
ínfulas, que descem até as espáduas. Na teoria, a mitra sempre é supostamente branca.
A mitra usada pelo bispo simboliza um capacete de defesa que deve tornar o prelado terrível aos adversários da verdade. Por isso, apenas aos bispos, salvo por especial delegação, cabe a imposição do Espírito Santo no sacramento do Crisma ou Confirmação.
A mitra pontifical é da origem romana, sendo derivada de uma cobertura de cabeça não litúrgica, exclusiva do papa, o
camelauco, do qual também teve origem a tiara. O
camelauco era usado antes do século VIII, como se relata na biografia do Papa Constantino, no “Liber Pontificalis”. O nono ‘’Ordo’’ indica que o
camelauco era confeccionado de um material branco e tinha a forma de um capacete. As moedas dos papas Sérgio III e Bento VII, em que São Pedro usava um
camelauco, dão a este a forma de um cone, que é a forma original da mitra. O
camelauco foi usado pelos
papas principalmente durante as procissões solenes. A mitra evoluiu do
camelauco, no curso do décimo século X, quando o papa começou a usar a mitra durante procissões à igreja e também durante o serviço religioso subsequente. Não se pode afirmar que tenha havido alguma influência do ornamento de cabeça sacerdotal do sumo sacerdote do Antigo Testamento. Foi só após a mitra estar sendo universalmente usada pelos bispos, é que se levantou a hipótese dela ser uma imitação da cobertura de cabeça sacerdotal judaica…
Desde o século XVII tem se escrito muito sobre em que tempo a mitra começou a ser usada na liturgia. Alguns autores crêem que seu uso é anterior aos tempos apostólicos, portanto anterior ao cristianismo. Segundo outros, remonta aos séculos VIII ou IX. E uma terceira corrente afirma que ela surgiu por volta do início do segundo milénio, sendo que antes era usado um ornamento para a cabeça na forma de grinalda ou coroa.
O certo é que um ornamento episcopal para a cabeça, na forma de uma faixa, nunca existiu em Europa ocidental, e que a mitra foi usada primeiramente em Roma por volta da metade do século X, e fora de Roma no ano 1000…
A primeira referência escrita sobre a mitra é encontrada numa bula de 1049, do Papa Leão IX. Nesta o papa, que tinha sido anteriormente bispo de
Toul, na França, confirmou a primazia da igreja de
Tréveris ao bispo Eberardo de
Tréveris, anteriormente seu metropolita que o tinha acompanhado a Roma. Como um sinal desta primazia, o Leão IX concedeu ao bispo Eberardo a mitra romana, a fim de que a pudesse usar de acordo com o costume romano, ao executar os ofícios da igreja. Pelos anos 1100 a 1150, o uso da mitra já havia se generalizado entre os bispos.
Os cardeais já usavam a mitra no fim do século XI, provavelmente tendo adquirido este direito na primeira metade daquele século. Leão IX concedeu este privilégio aos
cónegos da catedral de
Besançon, em 1051. Os cardeais, certamente, gozaram deste privilégio, anteriormente a esta data. A primeira concessão de uma mitra a um abade data do ano 1063, quando o Papa Alexandre II concedeu a mitra ao abade
Egelsino, na Abadia de Santo Agostinho, em Cantuária. Desde então as concessões aos abades foram aumentando até se generalizarem.
Também aos príncipes cristãos foi concedida, às vezes, a permissão usar a mitra, como uma marca da distinção; por exemplo, o Duque
Wratislaw, na
Boémia recebeu este privilégio do Papa Alexandre II; Pedro de Aragão recebeu de Inocêncio III. O imperador alemão também gozou deste direito.
Forma
Considerando a forma, há tal diferença entre a mitra do século XI e a mitra actual que, por vezes, é difícil reconhecer serem as duas a mesma peça litúrgica.. Na sua forma mais antiga, a mitra era uma cobertura simples, de material macio, que terminava acima numa ponta; tendo geralmente, mas não sempre, em torno da borda mais baixa, uma faixa ornamental (circulus). Parece também que as
ínfulas não estiveram sempre unidas à parte traseira da mitra. Por volta do ano 1100, a mitra começou a ter uma forma curvada para cima, tomando forma de um barrete redondo. Em muitos casos apareceu logo um depressão, na parte superior similar a essa que é feita quando um chapéu de feltro macio é pressionado para baixo na cabeça, forçando-o na testa e na parte de trás da cabeça. Em diversas mitras, uma faixa ornamental passou da parte dianteira à parte traseira através do recorte; isto fez mais proeminente as cúspides, na parte superior das lâminas, dos lados direito e esquerdo da cabeça. Esta mitra em forma de calota foi usada até tarde, atingindo o início do século XII; e, em alguns lugares, até o último quarto deste século.
Por volta de 1125, uma mitra de um outro formato e aparência um tanto diferente é frequentemente encontrada. Nela as abas nos lados tinham-se tornado chifres (cornua), que terminavam, cada um, em uma ponta, tendo sido endurecidos com pergaminho ou alguma outra intertela. Esta mitra forneceu a forma de transição ao terceiro estilo, que é essencialmente o da mitra usada ainda hoje. A terceira mitra é distinta de sua predecessora, não realmente por sua forma, mas somente por sua posição na cabeça. Ao manter sua forma, a mitra foi, desde então, colocada na cabeça com os cornos já não acima da região temporal, mas acima da testa e da parte traseira da cabeça. As
ínfulas tiveram, naturalmente, que ser prendidos na borda inferior abaixo do corno da parte traseira. O primeiro exemplo de tal mitra apareceu por volta de 1150. As mitras elaboradas desta forma tiveram não somente uma faixa ornamental (circulus) na borda mais baixa, mas uma faixa ornamental similar (titulus), que foi verticalmente aplicada sobre o meio dos cornos. No século XIV, esta forma de mitra começou a ser distorcida. Até então, a mitra tinha sido um tanto mais larga do que elevada, quando dobrado, mas neste período nela começou, lentamente, mas firmemente, ter a sua altura aumentada; até que, no século XVII, cresceu como uma torre real. Uma outra mudança, que surgiu no século XV, foi que os lados já não eram feitos na vertical, mas na diagonal. No século XVI, começou a ser habitual curvar-se, com mais ou menos intensidade, os lados diagonais dos cornos…
Tipos
O cerimonial distingue dois tipos de mitras
A Ornada quando é guarnecida de adornos, mais ou menos ricos. As mitras ornadas se dividem em:
Preciosa (Pretiosa): é decorada com pedras preciosas e ouro
Aurifrisada (Auriphrygiata): é de tecido liso de ouro ou de seda branca bordada a ouro e prata
Faixada: com duas faixas ornamentais ou galões, uma (circulus) na borda mais baixa, e outra (titulus) em posição vertical, no meio de cada pala ou corno.
A Simples é inteiramente de tecido branco, interna e externamente, sem ornamentos, nem mesmo nas
ínfulas, que portam franjas vermelhas. Ela será de linho para os bispos e de seda adamascada branca apenas para os cardeais.
Papa
Tradicionalmente, o papa, conforme a circunstância, serve-se de três tipos de mitra:
A Gloriosa: ornada de pedras preciosas e de um círculo de ouro que lhe forma a base. (Nesta categoria está inclusa a mitra com a tripla faixa dourada).
A Preciosa: ricamente decorada, mas sem o círculo da base.
A Argêntea: de lhama de prata, correspondente à mitra simples dos bispos.
No caso do Papa, a mitra pode ter o formato de uma coroa tripla, sendo, neste caso, chamada de tiara papal ou "triregnum". O uso da tiara papal foi abandonado, mas não abolido, pelo Papa Paulo VI, que adoptou a mitra comum, com a intenção de enfatizar mais o carácter pastoral do que temporal da autoridade pontifícia.
Uso
O "Cerimonial dos Bispos" manda que a mitra, o anel episcopal e o báculo sejam abençoados antes da ordenação episcopal de quem o deva receber; sendo que a primeira imposição deve ser feita apenas durante o rito da ordenação. Antes das celebrações litúrgicas, deve sempre ser um diácono quem impõe a mitra no bispo.
Pelas normas litúrgicas actuais, a mitra deve sempre ser uma só na mesma acção litúrgica. A mitra preciosa é usada nas celebrações mais solenes. A aurifrisada é usada no advento, na administração dos sacramentos, e nas “memórias”. A faixada, nos dias comuns. A mitra simples usa-se na “Quarta-Feira de Cinzas”, na “Sexta-Feira Santa”, no dia de “Finados”, nas “Assembleias Quaresmais”, no rito da “Inscrição do Nome”, na solene celebração do sacramento da Penitência, na celebração de Exéquias e quando um bispo concelebrar com outros, não sendo ele o celebrante principal. Portanto, nas concelebrações, somente o celebrante principal pode usar a mitra ornada.
O direito de usar a mitra pertence somente ao papa, aos cardeais, aos bispos e abades. Porém houve alguns privilégios a prelados menores como dignitários de cabidos, prelados da Cúria Romana, e Protonotários Apostólicos, porém este uso era bem limitado. A mitra chegou a ser permitida ainda às abadessas de mosteiros femininos.
A mitra é distinta de outras insígnias e sempre é retirada quando o bispo está rezando, em decorrência do preceito apostólico do homem sempre rezar com a cabeça descoberta (1ª Cor 11, 14).
Na ordenação de um bispo ele recebe primeiro o livro do Evangelho, depois o anel episcopal, a mitra e por último o báculo.
Pelas leis litúrgicas a mitra é usada pelo bispo, sobre o solidéu, quando se dirige ou retorna, processionalmente, para alguma função sagrada; quando está sentado; quando faz homilia; quando faz saudações; locuções e avisos; quando dá a bênção solene; e quando faz gestos sacramentais. O bispo não usa a mitra: nas preces introdutórias; nas orações; na “Oração Universal”; na “Oração Eucarística”; durante a leitura do Evangelho; nos hinos, quando estes são cantados de pé; nas procissões em que leva o Santíssimo Sacramento, ou as relíquias da Santo Lenho; e diante do Santíssimo Sacramento exposto…
Heráldica
A mitra foi suprimida dos brasões de armas dos bispos católicos, em 1969, sendo mantida nos brasões das dioceses. Nos brasões anglicanos a mitra sempre esteve presente como timbre. As
ínfulas são descritas com forro vermelho. O Papa Bento XVI , por influência do
heraldista Monsenhor Andréa Cordero Lanza de Montezemolo (depois criado cardeal), retirou a tiara de seu brasão, substituindo-a por uma mitra de prata com três traços dourados (numa referência às três coroas da tiara). Esta atitude de Montezemolo gerou crítica em todas as instituições heráldicas do mundo, que dentre as muitas argumentações, a principal evocada é a de que a Heráldica tem leis seculares e fixas. A Sociedade Americana de Heráldica chegou a sugerir que Montezemolo utilizasse pelo menos o
camelauco no brasão papal.”
Ainda sobre a Heráldica e a Mitra na página da net Ecclesia:
“Até 1969 a mitra era assim descrita para as composições da heráldica eclesiástica: a mitra é preciosa por quem tem a ordem dos bispos, posta de frente e acima do escudo à direita da cruz; é branca e posta de perfil para os abades detentores de jurisdição, inclinada à direita para os outros; é de ouro para os protonotários; branca para os outros que não tem o privilégio e é posta no centro no lugar da cruz.
Goffredo di Crollalanza afirma que na heráldica a mitra serve de penacho e os diversos eclesiásticos a portam como adiante se demonstra:Abades seculares: de perfil;Abades regulares: inclinada à direita;Abades comandatários: de perfil à direita;Ortodoxos mitratos: de perfil à direita;Bispos: de frente à direita; Arcebispos: de frente no meio.A mitra, aquela figura heráldica caracterizada em um escudo, representava a dignidade eclesiástica ou o prémio de virtude.”
Ainda da Ecclesia mas sobre o Chapéu eclesiástico:
“Na heráldica o chapéu eclesiástico é o ornamento externo mais usado para indicar o grau de dignidade, carimbando os prelados o próprio escudo com o chapéu que está em no lugar do elmo e/ou coroa.Moroni (Dizionario di Erudizione Storico-Ecclesiastica, Venezia MDCCCLIV.), falando dos chapéus prelatícios, afirma que em 1245, no curso do Concílio de Lião, o papa Inocêncio IV (1243-1254) concede aos cardeais um chapéu vermelho, quase particular distintivo de honra e de reconhecimento entre os altos prelados, para usarem na cavalgada da cidade. A prescrição de vermelho para que vigilantes estejam sempre prontos a derramarem o próprio sangue para defender a liberdade da Igreja e do povo cristão. Por este motivo, desde o século XIV os cardeais timbram os escudos deles com um chapéu vermelho, ornamentado de cordões e de borlas da mesma cor.
Na heráldica o chapéu vermelho que timbra o escudo dos cardeais aparece no início do século XIV, como se pode observar na catedral de Siena, na tumba do Cardeal Petroni, falecido em 1313. O uso era comum no século XV, com o gradual desaparecimento da mitra no brasão dos cardeais.
As borlas não eram definidas; assim, no tempo, podem-se observar chapéus dos cardeais com uma, duas, três, quatro ou seis borlas por lado, ao término dos cordões. O número das borlas dividem-se, de uso comum, disposto em quinze por parte, em cinco ordens de 1, 2, 3, 4 e 5 sobre o pontificado de Pio VI (1775-1779) e confirmado em 1832, com o Decreto da S. Congregação Cerimonial de 9 de fevereiro, onde se determina manter o número das borlas, a serem colocados em cada uma das duas fileiras do brasão dos eminentíssimos padres cardeais, divididos em quinze até não muitos anos atrás, sendo por todos proibido qualquer número superior a esse.
Com a Constituição Apostólica “Militatis Ecclesiae” regida em 19 de dezembro de 1644, Inocêncio X ordenou, por outro lado, que todos os Cardeais, com o escopo de construir a unidade e a igualdade do sacro colégio, removessem dos selos e de qualquer emblema deles, comummente chamados brasão, as coroas, os sinais e todos os atributos de origem secular, com excepção daqueles que são internos do escudo das milícias da família deles como parte essencial e íntegra do mesmo brasão, restando e decorados com o chapéu vermelho, resplendente da mesma cor do sangue precioso de Cristo. O galero ou chapéu dos cardeais é abolido pelo Papa Paulo VI…Para resguardar o número das borlas, Moroni continua descrevendo que antigamente se usava apenas aquelas que uniam o cordão ao manto, pois vinham adoptadas duas, enquanto posteriormente se acrescentou, daí porque se observa que dos dois cordões dos patriarcas, e núncios apostólicos, da dignidade episcopal, pendiam quatro por parte, contendo cada uma dez borlas, e aqueles dos arcebispos e bispos três em cada um dos dois lados, ou seja, seis borlas por cada cordão.
De fato, descreve que os Cardeais portam com dignidade, sobre o escudo da milícia deles, o píleo de cor vermelha com os cordões enlaçados em cinco ordens que formam cinco borlas ou fios, ou seja, isto é, um, dois, três, quatro e cinco da mesma cor para cada lado; foram estes institutos no lugar dos Senadores Romanos e representam o Poder do Rei sobre três Duques e aquela dos Primazes sobre três Arcebispos.Os Patriarcas portam sobre seus uniformes o chapéu de cor verde, forrado de púrpura com dez borlas, por parte com a cruz em três braços; destes foram eleitos na Igreja quatro, que são o Constantinopolitano, o Antioqueno, o Alexandrino e o Gerosolimitano no lugar dos Cônsules Romanos.
Os Arcebispos, ou Metropolitanos, carregam, como sinal da dignidade deles, um chapéu verde com um cordão vermelho com dez borlas em cada lado, como os Patriarcas, e sob isso, uma cruz com dois braços. São estas semelhanças com os Duques, porque como aqueles tiveram abaixo deles muitos Condes, assim estes têm mesmo muitos Bispos.
Os Bispos têm como marca episcopal um chapéu verde acoplado a seis borlas e uma cruz com mitra e báculo, somando ao lado do escudo, os cantos daqueles; representam estes os Condes…
Pelo chapéu do patriarca anota, por outro lado, que é similar ao de arcebispo, enquanto aquele prelado da Corte Romana é similar a este abade. Para o chapéu do protonotário apostólico descreve que é preto, mas como os fios de cor violeta, em número de três por parte e, finalmente, para o chapéu de bispo, descreve que é verde, com apenas um nó e três ordens de borlas por lado, dispostas 1, 2 e 3, informando que nem sempre os bispos se contentaram com apenas seis borlas, não podendo ter 10 ou 15 como os arcebispos.
A Enciclopédia Católica, descrevendo o chapéu e as borlas, os quais ornamentados de dignidade, anota que o chapéu acima do escudo, sustentando o capacete dos brasões nobres, delimitando os ornamentos de jurisdição e de ofício. As borlas subindo nos lados do escudo disposto no cume. Para os cardeais o chapéu – abaixo da “basílica” para o cardeal camerlengo – e as borlas são vermelhas e estas em número de trinta, dispostas quinze por parte, em cinco ordens de 1, 2, 3, 4, 5.Para os patriarcas o chapéu é verde adornado com a fita da mesma cor e fios de ouro e as borlas em número de trinta com a mesma disposição que para o cardeal. Para os arcebispos e bispos é verde com cordões e borlas da mesma cor, em número de vinte, dez por parte em quatro ordens; assim para o bispo, que não tem doze, seis por parte, sobre em ordens; para os protonotários participantes, sendo roxo com cordões e borlas escuras em número de doze, seis por parte, em três ordens; enquanto é preto com borlas pretas para os protonotários honorários…Plenamente divisível, a afirmação de Bruno Bernard Heim (L'Araldica della Chiesa Cattolica, Città del Vaticano 2000.) que, anos atrás, sustenta que não foi fácil submeter os chapéus eclesiásticos a uma normativa, antes do Motu Próprio “Inter multiplices curas” do papa São Pio X, emanado de 21 de fevereiro de 1905.Com este Motu Próprio, que regulamenta os hábitos e os emblemas dos protonotário e dos outros prelados da Cúria Romana, se prescreve que os protonotários Apostólicos de número ou participantes, numerosos e ad instar participantium “portam sobre o próprio brasão ou o aos próprios emblemas o chapéu com doze fios, seis por parte, mesmo de cor rubi, sem cruz nem mitra”; que os protonotários apostólicos titulares ou honorários “as próprias insígnia ou brasão podem sobrepor o chapéu, mas de cor preta apenas, com cordões e seis fios pendentes por lado, também na cor preta” e enfim, para os outros prelados da Cúria Romana, que “não podem nunca usar outra cor além do roxo no fio do barrete e na face do chapéu, que se distinguirá por ser feita com fios de ouro, e assim mesmo nos cordões e nos fios, e nos chapéu de sobrepor ao brasão, como dito no n. 18” e consequentemente, com doze fios, seis por parte.”