Um vale do concelho da Guarda, nas fraldas da Serra da Estrela, onde o Rio Mondego ainda corre para norte...
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
Fogo no Vale...já em Outubro!1
O único fogo deste Verão de 2011 dentro do Vale...e já em finais de Outubro...e ebm curto felizmente!!!! Foi em Pero Soares.
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
Os Mostajos
Sábado, 9 de Julho de 2011
do Blog DOQUEMELEMBRO
Meruges, Mostajos e Míscaros
Não me vou alongar em definições e explicações etimológicas porque, sobre isso, existe muita informação disponível no google, para além de várias imagens.Como não tenho fotos, vai assim, a seco, apenas à força de lembranças, lembranças de bons sabores, que não se me apagam.A partir de Janeiro e mais ainda na entrada da Primavera, a salada corrente era a de meruges. Compravam-se na praça (mercado) aos molhinhos, atados com um baraço. Plantinha verde, tão pequena, tão frágil, crescida nos regatos e ribeiros que, na época da minha infância e juventude, ainda eram de águas cristalinas. Temperada com azeite, cebola e sal, raramente falhava na mesa enquanto se obtivesse fresca e viçosa. A concorrente, era a salada de agrião, mas, para mim, a de meruges era a eleita.Entrava o Verão e passavam a reinar as saladas de pepino, tomate e pimentos. Curiosamente, de alface não tenho praticamente memórias, talvez porque não fosse tão vulgar.Do Outono para o Inverno, surgiam os mostajos e os míscaros.Dito assim, parecem produtos equivalentes, mas não. Os mostajos surgiam ainda em Setembro, eram pequenos frutos, mais ou menos do tamanho de avelãs, mas de um amarelo torrado. A garotada (eu incluída), subia aos mostajeiros das redondezas para cortar os ramos de onde pendiam em cachos e eram comidos logo ali. Tinham um sabor adocicado e eram um pouco farinhentos, mas nem por isso os desdenhávamos. Dizia-se que, se comidos em quantidade, podiam até embebedar, mas acredito que esse efeito só se produziria com enorme quantidade, porque não me lembro de termos, alguma vez, ficado "tocados", com a barrigada que deles comíamos.Mas lembro-me das esfoladelas nos joelhos e de alguns tombos, felizmente sem grandes consequências.Ocorreu-me agora que esta situação (a subida às árvores) também acontecia no tempo das cerejas e das groselhas. Íamos pelas quintas que havia perto e, umas vezes com consentimento dos donos, outras à socapa, trepávamos pelos troncos para cortar pernadas carregadas desses saborosos frutos e chegávamos a casa felizes mas em estado lastimoso. Escusado será dizer que a minha mãe não achava muita graça a estas façanhas e algumas vezes tivemos de nos ir desculpar...Com o aumento da humidade outonal, apareciam nos pinhais os míscaros. As gentes das aldeias dedicavam-se a colhê-los e a levá-los aos mercados das vilas e cidades; eram, tal como as meruges, também uma fonte de rendimento. Experientes, sabiam distinguir os comestíveis dos venenosos e não era muito vulgar errarem, o que não quer dizer que não acontecesse. Na minha cidade, era também à praça que íamos comprá-los, onde eram vendidos às malgas. Três ou quatro malgas de míscaros, vertidas para um cantinho acomodado da cesta de verga, era normalmente a quantidade que a minha mãe trazia para casa. Depois, era guisá-los como se de pedaços de carne se tratasse, mas com o cuidado de incluir no tempero a colherzinha de prata que se ia buscar ao faqueiro. Era esta colherzinha que determinaria se sim ou não teríamos na mesa uma saborosa refeição de míscaros; é que, se no fim do cozinhado, ela saísse negra, sem sombra da sua cor característica, adeus míscaros, que iam do tacho directamente para a pia, porque nem para o caldeiro das viandas, serviam.Isto não aconteceu muitas vezes, mas aconteceu.Não voltei a comer míscaros desde que deixei definitivamente a cidade, nem mesmo quando voltava anualmente ou por alguma ocasião especial. O mesmo, quase posso dizer sobre as meruges e os mostajos. Das meruges, trouxeram-me uma vez uns dois ou três molhinhos, para matar saudades, mas não reconheci o sabor, por isso não quis que voltassem a trazer-mos. Dos mostajos, só pude uma vez chegar a um raquítico mostajeiro, em Vilar Maior (terra do meu avô paterno), mas estavamos em Agosto, não havia mostajos.De tudo, sobrou-me a colherzinha de prata, que anda por aqui escondida numa gaveta.
Publicada por Maria Elisa em 10:28
Meruges, Mostajos e Míscaros
Não me vou alongar em definições e explicações etimológicas porque, sobre isso, existe muita informação disponível no google, para além de várias imagens.Como não tenho fotos, vai assim, a seco, apenas à força de lembranças, lembranças de bons sabores, que não se me apagam.A partir de Janeiro e mais ainda na entrada da Primavera, a salada corrente era a de meruges. Compravam-se na praça (mercado) aos molhinhos, atados com um baraço. Plantinha verde, tão pequena, tão frágil, crescida nos regatos e ribeiros que, na época da minha infância e juventude, ainda eram de águas cristalinas. Temperada com azeite, cebola e sal, raramente falhava na mesa enquanto se obtivesse fresca e viçosa. A concorrente, era a salada de agrião, mas, para mim, a de meruges era a eleita.Entrava o Verão e passavam a reinar as saladas de pepino, tomate e pimentos. Curiosamente, de alface não tenho praticamente memórias, talvez porque não fosse tão vulgar.Do Outono para o Inverno, surgiam os mostajos e os míscaros.Dito assim, parecem produtos equivalentes, mas não. Os mostajos surgiam ainda em Setembro, eram pequenos frutos, mais ou menos do tamanho de avelãs, mas de um amarelo torrado. A garotada (eu incluída), subia aos mostajeiros das redondezas para cortar os ramos de onde pendiam em cachos e eram comidos logo ali. Tinham um sabor adocicado e eram um pouco farinhentos, mas nem por isso os desdenhávamos. Dizia-se que, se comidos em quantidade, podiam até embebedar, mas acredito que esse efeito só se produziria com enorme quantidade, porque não me lembro de termos, alguma vez, ficado "tocados", com a barrigada que deles comíamos.Mas lembro-me das esfoladelas nos joelhos e de alguns tombos, felizmente sem grandes consequências.Ocorreu-me agora que esta situação (a subida às árvores) também acontecia no tempo das cerejas e das groselhas. Íamos pelas quintas que havia perto e, umas vezes com consentimento dos donos, outras à socapa, trepávamos pelos troncos para cortar pernadas carregadas desses saborosos frutos e chegávamos a casa felizes mas em estado lastimoso. Escusado será dizer que a minha mãe não achava muita graça a estas façanhas e algumas vezes tivemos de nos ir desculpar...Com o aumento da humidade outonal, apareciam nos pinhais os míscaros. As gentes das aldeias dedicavam-se a colhê-los e a levá-los aos mercados das vilas e cidades; eram, tal como as meruges, também uma fonte de rendimento. Experientes, sabiam distinguir os comestíveis dos venenosos e não era muito vulgar errarem, o que não quer dizer que não acontecesse. Na minha cidade, era também à praça que íamos comprá-los, onde eram vendidos às malgas. Três ou quatro malgas de míscaros, vertidas para um cantinho acomodado da cesta de verga, era normalmente a quantidade que a minha mãe trazia para casa. Depois, era guisá-los como se de pedaços de carne se tratasse, mas com o cuidado de incluir no tempero a colherzinha de prata que se ia buscar ao faqueiro. Era esta colherzinha que determinaria se sim ou não teríamos na mesa uma saborosa refeição de míscaros; é que, se no fim do cozinhado, ela saísse negra, sem sombra da sua cor característica, adeus míscaros, que iam do tacho directamente para a pia, porque nem para o caldeiro das viandas, serviam.Isto não aconteceu muitas vezes, mas aconteceu.Não voltei a comer míscaros desde que deixei definitivamente a cidade, nem mesmo quando voltava anualmente ou por alguma ocasião especial. O mesmo, quase posso dizer sobre as meruges e os mostajos. Das meruges, trouxeram-me uma vez uns dois ou três molhinhos, para matar saudades, mas não reconheci o sabor, por isso não quis que voltassem a trazer-mos. Dos mostajos, só pude uma vez chegar a um raquítico mostajeiro, em Vilar Maior (terra do meu avô paterno), mas estavamos em Agosto, não havia mostajos.De tudo, sobrou-me a colherzinha de prata, que anda por aqui escondida numa gaveta.
Publicada por Maria Elisa em 10:28
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
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